segunda-feira, 30 de abril de 2007

Lembrança de Morrer




Lembrança de Morrer


Quando em meu peito rebentar-se a fibra
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nem uma lágrima
Em pálpebra demente.

E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.
Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poento caminheiro
- Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao deobre de um sineiro;

Como o desterrro de minh'alma errante,
Onde fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade - é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.

Só levo uma saudade - é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas...
De ti, ó minha mãe, pobre coitada
Que por minha tristeza te definhas!

De meu pai... de meus únicos amigos,
Poucos - bem poucos - e que não zombavam
Quando, em noite de febre endoudecido,
Minhas pálidas crenças duvidavam.

Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda
É pela virgem que sonhei... que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!

Só tu à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores...
Se viveu, foi por ti! e de esperança
De na vida gozar de teus amores.

Beijarei a vedade santa e nua,
Verei cristalizar-se osonho amigo...
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu, eu vou amar contigo!

Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
- Foi poeta - sonhou - e amou na vida.-

Sombras do vale, noites da montanha
Que minh'alma antou e amava tanto,
Protegei o meu corpo abandonado,
E no silêncio derramai-lhe canto!

Mas quando preludia ave d'aurora
E quando à meia-noite o céu repousa,
Arvoredos do bosque, abri os ramos...
Deixai a lua prantear-me a lousa!


Álvares de Azevedo, poeta romântico brasileiro,
morreu vítima da tuberculose - a tísica - antes de completar vinte e um anos.
Talvez a tuberculose tenha agravado o estado de pessimismo
no nosso poeta de tendências byronianas,
mas o fato é que até hoje seus poemas são lidos com certo fervor e devoção,
caracterizando-o como um dos mais mórbidos poetas da nossa literatura.
Infelizmente, poucas pessoas conhecem sua obra na íntegra,
apenas cultivando-o por poemas como o que está aqui transcrito.
Mas nosso jovem bardo também compôs poemas de caráter satírico
nos quais ele criticava - inclusive - os excessos do byronismo.
Paradoxal? Então leia a peça teatral "Macário".


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Stephen King escreveu, em "Sombras da Noite", um conto - cujo título eu não me lembro em absoluto - que se assemelhava ao livro "Decamerão", obviamente sem as contações de histórias. É um grupo de jovens fugindo, num futuro não muito distante, de uma nova praga. Um deles comenta que era estranho, pois todos achavam que a humanidade acabaria com a terra, mas estava sendo dizimada por um vírus. A curiosidade vai crescendo e o leitor fica se perguntando que nova praga seria essa. Não mais a Peste Negra, ou seja, a Febre Bubônica, mas... que seria?... O tal vírus é colocado como um número, quem tivesse pego o número tal, não pegaria o vírus número outro, que este sim, era fatal. E, tal como em Decamerão, eles saem de cidade em cidade, tentando driblar o vírus...da GRIPE.

-GRIPE?!?... como assim???... - dirá o meu leitor inconformado e incréu - só uma gripezinha?

Gripezinha?... gente! menos. Dor de cabeça tonitroante, corpo todo machucado e se maldizendo, tosse dolorida (sim! os pulmões se fazem sentir também), nariz entupido, "cansaço" respiratório, febre, espirros, mal-estar generalizado, dor de barriga.... Têm certeza que uma gripe hoje em dia pode ser chamada só de uma "gripezinha"?!

Quiçá Stephen King não esteja correto e a humanidade não termine graças a um supervírus de uma supergripe que nenhum superhomem conseguirá derrubar com um supermurro.

Na realidade, este post foi só para constatar o meu estado de saúde... precário.

Agora, com licença, que meus dedos também doem e minha cama reclama a minha presença urgente urgentíssima .

Ah, sim! agora deu para entender porque escolhi o poema de Álvares de Azevedo para hoje?
=P . Detalhe: a tuberculose tem voltado a atacar, observem as propagandas da TV Cultura.




4 comentários:

GMaciel disse...

Eu estranhei ver o blogue tão só.
As melhoras rápidas.
;)

Tetê Macambira / Papel de Arte disse...

Com esse tempo doido, só melhorando para logo mais, piorar de novo... hmpf!

Anônimo disse...

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Anônimo disse...

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