sábado, 26 de maio de 2007
Antes de pendurar as chuteiras
Antes de Pendurar as Chuteiras
(Um diálogo sobre fotografia no MSN)
Personagens:
Tetê Macambira - deslumbrada ex-aluna de fotografia do professor Pedro
Pedro Humberto - crítico, fotógrafo e professor do curso de fotografia
Local: internet
Época: atual
Tetê: Olha que foto maravilhosa! o que tu achas?
Pedro: Boa luz, cores fortes, sem sombras....
Tetê: Mas só vês o lado técnico?
Pedro: O que queres? Eu sou técnico - era engenheiro antes de ser fotógrafo!
Tetê: Mas não dá para ser só técnico quando se vê essa foto! Olha só a simbologia contida nela!
Pedro:... Tipo?!?...
Tetê: Ora, as meias protegem os pés do atrito com os sapatos, que por sua vez significam trilhas caminhadas, percorridas, idas e vindas, ...
Pedro: A vida, a própria vida....
Tetê (animada): Sim! isso mesmo! já começas a perceber o meu ponto de vista!
Pedro: Os passos que foram dados... ou não
Tetê: Sim!! e estraem penduradas no varal, significam uma parada, um momento ...
Pedro: Um descanso, uma pausa para relaxar...
Tetê: Isso! Ou até mesmo, quem sabe? uma tentativa de se vivenciar os caminhos mais arduamente, mais plenos de.....
Pedro: Dor, calos, ...
Tetê: Isso! representantes das dores do homem. Mas também o título...
Pedro: O que tem o título?
Tetê: "Antes de pendurar as chuteiras". Isso quer dizer que pode ser apenas uma pausa, um hiato na vida, uma preparação para o adeus definitivo....
Pedro: Ou apenas um descanso mesmo.
Tetê: Um instante da cotidianidade roubada do tempo, representando tantas idéias, tantas dores... tantos "calos"...
Pedro: E também chulé.
Tetê: ...?????... heim?...
Pedro: Ora, não posso ver meia sem pensar em chulé. Meias são chuluzentas!
Tetê (indignada): Ah... tá. Esta vai ser a grande, a máxima frase do dia: "Meias são chuluzentas". Imagine só!!!
Pedro: E não é? Aquelas meias fedidas, suadas do dia todo...
Tetê: Tu não tomas jeito mesmo!! continuas o mesmo crítico feroz de sempre!
Pedro: Mas o que foi que eu disse de mais?!?...
Tetê: Naaaaaada, imagina!!! nadinha de nada. Eu é que não vou convidá-lo para ver a MINHA exposição de fotos, nunquinha!
Pedro: Ora, mas os técnicos são necessários. De que será sua exposição; de sapatos?
Tetê: Não!!!!! de cataventos. Sabe aqueles cataventos gigantescos que servem para puxar água nos interiores do Brasil?
Pedro: Sei...
Tetê: Pois! Serão os meus modelos!
Pedro: Bom é que eles não terão muita reclamação a fazer. Ruim é que eles não ofereçam muita mobilidade nem poses diferentes...
Tetê: É, mas no dia da exposição, sumo do teu mapa!
Pedro: Ora, por quê? Cataventos são legais. Implicam na passagem do tempo,
Tetê (perplexa): ?????
Pedro: ... nas forças da natureza, na economia de força bruta graças à inteligência humana,...
Tetê: Sim!!!!!!!!!!
Pedro: Como eu disse, cataventos são legais e não fedem a chulé!
Tetê: Como tu podes dizer um negócio desses?
Pedro: E não é?... Cataventos podem ter ferrugem, inspiram a idéia de ventos, de força, de água sendo bombeada, da vida... Mas não têm pés e, sendo assim, não são chuluzentos.
Tetê (resignada): Tu não tens jeito, mesmo!
Pedro: Mas pode me convidar para quando fizeres tua exposição. Vou adorar ver todos aqueles cataventos...
Tetê: Tá. Porque cataventos não têm chulé.
Pedro: Isso mesmo.
Tetê: E você vai se sentir refrescado só de olhar para aquele monte de fotos de cataventos....
Pedro: Aí, depende.... na exposição vai ter um daqueles ventiladores de cinema, arrastando a gente?
Tetê: Claro que não! Que ideia!
Pedro: Por que não? Olha que ia criar um clima extra, assim.. digamos, interativo.
Tetê: ????
Pedro: Já pensou? O povo olhando aquelas fotos de cataventos rodando e sentindo uma "puxa" brisa no rosto?
Tetê: E eu, pensando apenas em ilustrar com um catavento de verdade, mais um monte daqueles de papel para entregar como lembrança...
Pedro: Que coisa mais infantil.
Tetê: Ora!!! não entendeste a relação?.. de um mero brinquedo de criança à uma realização útil para o homem?
Pedro: Ainda está muito infantil.
Tetê: CHEGA!!!!!! Não vou mais fazer $%$&$@# de exposição coisa nenhuma!
Pedro: Por quê? A ideia de cataventos é legal. Eu só estava brincando com a idéia do ventilador.
Tetê: Desisti dos cataventos. Sou eu agora quem vai pendurar as chuteiras, as meias, tudo! Muito complicado. Vou fotografar agora uma coisa melhor.
Pedro: O quê?
Tetê: A poeira.
Pedro: É... eu acho que tenho que ir... Fui!
Tetê: Hehehehe... é brincadeira, visse?.... Pedro????... Cadê tu?..
Pedro: .....
Tetê: Ué! Ele acreditou!
(Fecham-se os diálogos)
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Pedro Humberto existe e o diálogo sobre a foto acima realmente existiu, obviamente sem todos esses melindres, mais de 60% se deve à minha imaginação, que não é pouca. Também devo acrescentar que Pedro nunca sairia do ar assim, sem aviso prévio. Ele é muito educado para isso.
Mas uma coisa é certa: ele realmente brincou com a idéia de: meias = chulé.
Ele foi meu professor de fotografia há 14 anos atrás, na Casa Amarela. Na época e, se não me engano ainda hoje, foi e é considerado o melhor curso de fotografia da cidade. Pelo menos, para mim, foi. Depois dele, ainda fiz o curso de fotojornalismo, outro de fotografia,... Mas nenhum supera o que eu pude aprender com meu professor, que por mais sério que pareça, tem um senso de humor irônico e extremamente radical.
E, para ele, só de pirraça, dedico esta outra foto que achei na net, e cuja autoria não pude definir:
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