quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Aves de Arribação, de Antônio Sales

Aves de Arribação, de Antonio Sales
Aves de Arribação, romance publicado em forma de folhetim no antigo jornal "Correio da Manhã" e editado em livro em 1914, é a principal obra do escritor e poeta Antônio Sales. Romance impressionista que deu curso à linha do naturalismo de Eça de Queirós.

A obra é eclética, de conteúdo romântico, na preocupação que teve o filho amante de sua terra em não mostrá-la, como sempre acontecia com os naturalistas, e ainda hoje ocorre, com os chamados neo-realistas, pelo lado da tragédia: a seca, a fome, o banditismo, os tremendos descompassos sociais, a política revoltante e feudal; antes, pintando, a modos de Taunay de Inocência, 1872, um Ceará verde, na pacata normalidade subseqüente a períodos chuvosos, de molde a revelar, com suas tintas, por assim dizer, de miniaturas, ora a alegria serena do campo, o encanto rústico do trabalho no eito, da natureza em sua equilibrada manifestação, ora na umidade da mata exalando o acre e variegado perfume, ora o bucolismo garretiano dos entardeceres, mas demorando-se o romancista, de preferência, salientamos, machadianamente, no retratar, incisivo, se bem que sutil, dos personagens, ora com ternuras de um Alencar, ora com o sentido caricatural de um Lima Barreto.

Aves de Arribação, como bom romance regional de contextura universal, foi composto com senso de observação, humor e muito amor, e sobretudo num estilo que não souberam ou não quiseram utilizar os escritores seus contemporâneos.

Enredo

O período histórico da narrativa encerra-se entre o final da Monarquia e a instauração da República. A cidade fictícia criada por Antônio Sales é Ipuçaba, interiorana e monótona, sem muitas novidades, a não ser pelas palestras a respeito de política ou dos fuxicos que, freqüentemente, são ouvidos nas calçadas e que se relacionam, em sua maioria, às vidas alheias.

O romance inicia-se relatando a figura de Padre Serrão, um sacerdote inescrupuloso, egoísta, ganancioso que é responsável pelos paroquianos de Ipuçaba. Peadre Serrão tinha uma biografia apagada e mediocremente edificante. Despido de fervor evangélico... tem uma sólida indiferença à conduta religiosa dos seus paroquianos, aos quais administrava os sacramentos já um tanto maquinalmente, apenas preocupado com os proventos que embolsava, e graças ao seu interesse pelo dinheiro, é muito amigo de João Ferreira, chefe do Partido Conservador, um homem desprovido de caráter, dono de um passado misterioso e que enriqueceu às custas do Coronel Herculano, chefe liberal, que possuía atitudes de homem sério e bom. Herculano fornece dinheiro a João Ferreira para que este se estabeleça com uma casa de comércio. À medida que enriquece, Ferreira despreza Herculano, trapaceando-o e fazendo com que o Coronel siga o rumo da falência, depois que este paga, por ser fiador, a falsa falência de João Ferreira. Descoberta a farsa, Ferreira é preso por aproximadamente um ano.

Saindo da cadeia, vai a Fortaleza e volta de lá com dinheiro e com o título de delegado de polícia. Passa a disputar a autoridade com Herculano e ainda é ajudado pelo vigário Serrão. João Ferreira exercia a dominação pelo terror. Tinha a melhor casa da cidade, aumentou seu comércio, montou uma fábrica de descaroçar algodão e comprara várias fazendas de criação de gado, juntamente com ele prosperou o Padre Serrão.

Com a chegada da República, os chefes de ambos os partidos foram postos de lado para dar lugar a novas figuras designadas pelo Centro Republicano de Fortaleza. Ferreira declara-se ainda monarquista, pois não seria a favor da "canalha república".

Padre Serrão morre e o seu sobrinho, Padre Balbino (José Serrão) assume. Balbino, sujeito pouco inteligente, não tinha vocação política e não ata laços com João Ferreira, aproximando-se de Chico Herculano. Balbino era querido entre os "pequenos" da cidade.

Era costume de alguns ipuçabenses reunirem-se em rodas para palestrar ao cair da tarde. O vigário se sentava à calçada para fumar seu charuto sob uma velha mungubeira, enquanto a roda se formava. Asclepíades Oreste de Aconcágua Pinto era o primeiro a chegar, tinha um ar soberbo de praciano só pelo fato de ter morado em Maranguape, perto da Capital e ter viajado ao Rio de Janeiro. Toda vez que dirigia a palavra a um nativo lançava mão do chavão: vocês, matutos.... Era compadre de Padre Balbino, pois este havia batizado-lhe os três primeiros filhos, quando ainda moravam em Maranguape e era padrinho de Florzinha, uma das filhas de Asclepíades. Chegava também à calçada o escrivão Casimiro, parceiro de gamão do Padre Balbino; professor Agrela, que tinha uma queda pela "pinga", pela "branca"; Lucas bodegueiro, entre outros. A casa do padre estava em reforma para recepcionar o sobrinho promotor que estava para chegar. O vigário morava com uma criada velha (Josefina), cozinheira, e um rapazinho (Bernardino) para mandados.

No dia 20 de fevereiro chega a Ipuçaba o promotor Alípio Flávio de Campos, sobrinho de Balbino e autor de "Pingentes", um livro de poemas prefaciado por Tobias Barreto. Certa vez, vindo ao Ceará, em visita ao tio e para vender alguns terrenos que seu pai lhe deixara, recebeu uma carta do tenente-coronel Francisco Herculano oferecendo-lhe a promotoria de Ipuçaba. Não aceitaria, mas uma carta do tio, que tanto lhe ajudara no período acadêmico, faria ele mudar de idéia, aceitando a possibilidade de ganhar os primeiros dinheiros de sua atividade, embora fosse contra a própria vontade.

Alípio era sábio apenas nas palavras, pois na faculdade de Direito não foi dos melhores, era muito boêmio e farreava demais, ele gozava à larga a mocidade que é como a flor do lótus, que em cem anos floresce apenas uma vez... e com esse dom da oratória polida, foi conquistando espaço nas melhores rodas de Recife, gente importante saldava-o, tinha prestígio. Por conta da vida fácil que levava, mesmo sendo sustentado pelo tio Balbino por algum tempo, foi-se arraigando em si um sentimento egoísta, onde "gozar e subir" eram os prazeres do moço. Até mesmo quando é convidado para participar de um grupo positivista diz não, pois um sujeito pagão habitado por uma alma nietzschiana não faria parte do puritanismo cívico do Senhor Comte.

O promotor chega a Ipuçaba montado no cavalo Sanhaçu, providenciado por Herculano com o único intuito de uma entrada triunfal na cidade e é recebido na casa de Asclepíades, para um almoço. O povo recebe o promotor: banda de música tocando a Marselhesa (Originalmente canto de guerra revolucionário e hino à liberdade, a Marselhesa impôs-se progressivamente como hino nacional francês. Hoje ela acompanha a maior parte das manifestações oficiais), hino provisório da República. O coletor apresenta sua mulher, D. Claudina, a filha mais velha, Florzinha e seu bando de filhos, ao todo eram dez filhos vivos e três mortos, a maioria de nomes esdrúxulos, que de imediato foram chacoteados por Alípio, generalizando-se as gargalhadas dos demais presentes.

No jantar de recepção, realizado na casa de Chico Herculano, Dr. Alípio, além de reencontrar Florzinha, a filha mais velha do coletor Asclepíades, conhece a professora Bilinha. Dança com as duas.

Ao contrário do que pensava, Alípio não encontrou tédio em Ipuçaba, mas sim rodas de novos amigos nas quais palestrava. Filava o café ao meio-dia na casa da professora Bilinha e todos os dias ia à casa do coletor Asclepíades. O coletor tinha por desejo casar Florzinha com o promotor e tudo concorria para isso, pois o promotor era sobrinho de Balbino que era padrinho de Florzinha. Porém, casamento não era a vontade de Alípio, que um dia, fazendo a barba, disse: A matutinha é chic...excelente para encher os ócios de um exilado; mas quando ao casamento, livra! Fora a pieguice!.

O poeta ipuçabense, Matias de Araújo, faz uma visita a Alípio. Matias era muito rejeitado em sua terra, mas "na Fortaleza" ou em Sobral, seus versos eram bem aceitos. Na visita, o poeta fica perplexo com o realismo cru do autor de Pingentes, viu que não havia mais o lirismo que Alípio tinha escrito em versos, mas um homem soberbo que o apresentou a uma coleção falsificada das Sensuais de Rabelais (foi um escritor francês do Renascimento. Rabelais é o modelo perfeito do humanista do renascimento, que lutava com entusiasmo para esquecer a influência do pensamento da Idade Média, inspirando-se nos ideais filosóficos e da antiguidade clássica. Foi monge franciscano, depois beneditino. Posteriormente abandonou a ordem, mas não a batina. Imaginou a Abadia de Thélème onde a única regra seria "faça o que quiser". Foi autor de obras satíricas como Gargantua e Pantagruel, propôs a filosofia pantagruelista); Martins corou, pois se tratavam de assuntos mais modernos. Em certa altura da conversa, Alípio pede que Matias recite alguns versos do poema "Coração errante" ...daí Alípio deduz que Matias gosta de D. Bilinha, a professora. Em meio à conversa, Matias nega tal envolvimento, apesar da insistência de Alípio e dos versos que acabavam por entregar o poeta. A amizade entre Alípio e Matias se firma. No domingo, vão à tradicional Feira, onde pessoas de diversas localidades se reunem para ouvir a Missa, conviver e comerciar. A Feira é o lugar onde surgem das mais variadas conversas. O tenente Chico Herculano fazia compras e as mandava para Bilinha; Joca Neves é conhecido como o criador de conversas e apelidava a todos que passassem pela Feira.

Alípio recebe a alcunha de "Frango suro", devido às roupas justas que usava. E é da Feira que saiam os rumores dos romances, nos quais Alípio estaria namorando D. Bilinha e Florzinha, porém teria um concorrente, o tenente Chico Herculano, apaixonado pela professora. Diziam que Alípio daria o coração a uma, e o resto, à outra, mas ao fim de tudo não ficaria com ninguém, enganando-as. Depois Chico Herculano demitiria Alípio e a professora, choraria o fracasso amoroso junto à Asclepíades, romperiam com o Padre Balbino que não casaria ninguém, mas talvez tivesse que batizar algum enjeitadinho....

Depois da Feira, dirigem-se à casa do coletor, iam buscar Florzinha para ouvir à Missa, mas Matias se recusa a acompanhá-lo, pois não queria confirmar que o promotor também gostava de Florzinha.

Após a Missa, acontece um alvoroço na Feira, pessoas corriam desesperadamente e depois soube-se o que acontecera: Zé Pipoca, cangaceiro de João Ferreira, apareceu na Feira, desafiando as praças, enfrentou- os, mas foi mortalmente ferido, depois de ter ferido alguns soldados, caindo sobre a calçada de João Ferreira, que tenta colocá-lo para dentro de casa, mas é impedido pelos soldados. Zé Pipoca é preso.

Pela noite, depois do incidente, Alípio e Matias vão à casa de Bilinha, conversam sobre Literatura, conversa essa que não agrada D. Maria Lina, mãe da professora, que fica a conversar com D. Benvida e Venâncio, seus vizinhos muito retos de conduta e muitos queridos pela sociedade; graças aos seus caracteres serviçais e acolhedores. No intuito de arrefecer a palestra que havia entre Alípio, Matias e Bilinha, D. Benvida chama-os para uma patida de Víspora (o mesmo que bingo, loto, um jogo com cartões numerados). Alípio aceita de pronto, seguido de Matias e Bilinha, que aceitou sem entusiasmo. Desde então, passaram a jogar todas as noites.

Porém, D. Helena, esposa de Chico Herculano, adoece de uma pleurisia e Bilinha vai prestar-lhe serviços com as vagas noções que tinha de medicina caseira. Chico Herculano pede que ela fique cuidando da enferma. Bilinha aceita em consideração aos muitos benefícios que ele a fornecia.

D. Helena não confiava em Bilinha, mas com o passar do tempo aceitou-a e nutriu por ela uma grande amizade. Todas as noites, Herculano ia conversar com elas no quarto e, entre essas conversas, o tenente conta que Alípio estava sendo ameaçado de levar uma surra do mandante do incidente na Feira, o João Ferreira. Bilinha se revolta com a situação e revela o quanto odeia estar naquela cidade repleta de caluniadores.

Durante a noite, Bilinha pensa em Alípio e o quanto está segura de que não se renderá aos encantos do bacharel, sua vontade é de apenas "flertar". Ela que estava acostumada em só se relacionar com parceiros ruins, agora lhe surgira um novo e mais perigoso exemplar dos gênios maus. Bilinha pensa em seu passado obscuro, não sabe de sua origem, e pensa na mãe, que tinha um passado sujo por ter se entregado a homens, por ter sido desonrada e não ter sido mulher direita. Por esses motivos, a professora sente ódio e desprezo pela mãe, D. Maria Lina.

D. Helena melhora e a casa se enche de visitas, Bilinha e Florzinha conversam e Florzinha demonstra o quanto se sente incomodada com as histórias que a cercam e também pelo possível relacionamento entre a professora e o promotor. Florzinha também fala do seu desprezo pela cidade e do quanto almeja sair dela. Sendo essa a última noite de Bilinha na casa de Herculano, esse aparece a noite na janela do quarto da professora. Bilinha se assusta, pergunta o que Herculando quer e esse tenta agarrá-la. Bilinha consegue fechar a janela e depois chorar desolada por ter mais um desgraçado em seu caminho.

Certa vez que Florzinha fazia crochê no quintal, a ex-escrava Mariana comenta sobre o que estão falando da menina e do promotor, Florzinha se desespera e encontra amparo nos braços da mãe. Asclepíades não se importava com o sofrer da filha, e sim com a vontade de casá-la com o bacharel. Florzinha passa a evitar a presença do promotor, fato que desagrada profundamente o coletor.

Mas uma oportunidade alegra Florzinha, iria para a Varjota, fazenda do tio, o capitão Galdino de Moura, lá ela estaria longe de Alípio e poderia esfriar a cabeça e colocar as idéias no lugar. Depois de uma tanto esperar, chega o dia de viajar e Florzinha vai para a Varjota, ficar do lado da melhor amiga, a prima Luizinha. Morava também na fazenda Cazuza, o outro filho do capitão e seu auxiliar na labuta.

Depois da partida de Florzinha, o jogo de víspora retornara à casa de Bilinha, mas agora com a presensa vigilante e desagradável do Coronel Herculano, que fazia com que o jogo logo perdesse o vigor e os participantes se dispersassem. Era objetivo de Herculano atrapalhar a convivência entre Alípio e Bilinha.

Certo dia, Herculano vai à casa de Alípio e, por chacota, o promotor diz que irá casar com Bilinha, Herculano sai da casa do promotor irritadiço.

Numa noite em que o víspora começara mais cedo, uma forte chuva cai sobre Ipuçaba e os jogadores dirigem-se às suas casas, restando apenas Alípio, a professora e D. Maria Lina, que se retira para o quarto e os deixa sozinhos na sala, depois e um ínterim de silêncio, D Maria Lina vai olhar o que se sucede com a filha e percebe que ela e o promotor tinham se rendido à tentação e mantiveram relação sexual na escolinha, que ficava ao lado da casa de Bilinha. Desde então D. Maria Lina se felicita de tal fato, pois agora Bilinha não poderia masi tratá-la com tanto desprezo, pois tinha decido ao mesmo patarmar da mãe, o sangue a pregou essa peça, o sangue das mulheres que se perdem na vida, que se desencaminham por causa de homens que as galanteiam, as desonram e nada mais.

Chega a notícia de mudanças no governo, uma vez que o generalíssimo (Deodoro da Fonseca) demitiu o primeiro ministério e chamou Barão de Lucena (ex-monarquista) para organizar um segundo ministério, fato que poderia mudar os rumos da política em Ipuçaba assim como em outras partes do Brasil, uma vez que causou cisão entre os responsáveis pelo poder na República, partidários desgostosos com a escolha de Deodoro passam a apoiar Rui Barbosa. O poder, em Ipuçaba, poderia até passar às mãos de João Ferreira, Lucena era amigo pessoal de Alípio e esse se mostrava favorável a Deodoro.

Alípio adoece gravemente, "uma constipação feroz", uma gripe forte, mal de família, o derruba, deixa-o acamado. Casimiro procura por Pinheiro, um metido a médico caseiro e ao mesmo tempo curandeiro. Alípio é traslado até a Varjota, onde receberá toda a assistência do capitão Galdino e de sua esposa, D. Maroca. O bacharel passa bom tempo debilitado, mas as suas feições de frágil, chamam a atanção de Florzinha. A enfermidade fez com que Alípio pensasse na sua fragilidade e do quanto dependeu daqueles “matutos” que se não fossem eles, sua vida teria acabado. A partir daí, demonstra sinais de melhora, não só de saúde, mas também de alguns conceitos em relação à vida. Quem cuidava de Alípio era Cazuza, irmão de Luizinha. Matias, que estava numa fazenda próxima à de Galdino, foi visitar Alípio. Asclepíades não gostava de Alípio, pois pensava que esse gostava de sua filha e poderia ser um impecilho no casamento de Florzinha. No entanto, Matias gostava de Luizinha, a prima de florzinha e era correspondido, ao saber disso, Asclepíades passou a apoiar essa união que ele não desejava para sua filha. Galdino e Maroca gostavam de Matias, fato que desagradava profundamente o coletor.

Casimiro chega com notícias de Ipuçaba, apareceu por lá um vendedor de cavalos e dentista nas horas vagas, seu nome era Florêncio Cavalcanti de Albuquerque. Capitão Galdino se interessa por essa notícia, pois tinha uns animais para passar no cobre. Alípio conhece Florêncio e o chama de Florencanti, como lhe chamavam no Recife. Era o herói da Florenciada, um poema que fizeram para ele. Florêncio havia sido traído pela primeira esposa, ela o traíra numa república de estudantes, porém quando saiu de lá doneça, Florêncio cuida dela até que ela morre, um ato nobre.

Alípio melhora definitivamente e passa a conviver melhor com os outros da casa. Formam-se rodas no alpendre da casa para palestras diversas, Florzinha e Alípio sempre trocam olhares, mas o promotor não esquece D. Bilinha.

Alípio pensava que todas as circunstâncias o levaram a estar ali, cercado por uma família e, devido a tantas obrigações que ele os devia, sentia-se quse na obrigação de pedir a mão de Florzinha para o casório. Ele só não aceitava aidéia de se se casar com uma matutinha daqueleas que mal sabia dançar, ou se portar nos grandes salões que ela viria a conhecer quando esposa dele, era uma perda de tempo, um atraso, uma dose maldição.

Certa manhã, Alípio decide caçar, e sai pelas matas da Varjota em busca do que ele prometer a Galdino, ser o almoço do dia. Alípio acertou alguns jacus e depois, quando voltava para casa, ouviu passos quebrando os frágeis galhos na rama, e depois... ouviu risadas. Deparando-se com uma espécie de cabana, escondera-se para não ser pego em flagrante e mirou por uma fresta. O que viu foi de fazer o coração acelerar, era Luizinha e Florzinha, talvez fossem tomar banho no rio e a idéia enchia Alípio de um prazer imódico. Luizinha começa a se despir e encoraja Florzinha a fazer o mesmo, quando Alípio contempla a imagem da beleza nua das duas moças fica perplexo, espera que elas se afastem e volta para casa. Porém, na volta encontra o garoto, o Neco, que estava sentado um pouco distante do promotor e que fazia o mesmo que ele, olhava as moças tomarem banho. Alípio fez ameaças a Neco caso ele revelasse alguma coisa a alguém. Alípio se aproxima mais ainda de Florzinha e Matias se enamora mais intensamente por Luizinha. A partir de então, Cazuza começa a se afastar de todos, porque tinha paixão pela prima, Florzinha, e a presença do promotor passara a desagradá-lo.

Alípio parte com Asclepíades para Ipuçaba, na promessa de que assim que voltasse da Capital casaria com Florzinha. No julgamento do Zé Pipoca, acontece um fato que determina o fracaso e a falta de expressão política que se encerrava Herculano: Zé Pipoca, defendido pelo advogado Francisco Mirabeau, de Iguatu, é libertado por nove votos contra três.

Florêncio passa a se relacionar intensamente com Bilinha, vai sempre a casa dela acompanhado do escrivão Casimiro. Benvinda vê o casamento com bons olhos. Porém Bilinha demonstra insegurança, por não conseguir se livrar de Alípio, mesmo em seus pensamentos. No entando, Alípio trama de visitá-la para avisar da viajem a capital. Bilinha chora muito e diz a Alípio o quanto ela se sentia mal por ter sido abandonada, por ter sido usada. Alípio inventa uma história para Benvinda, dizendo-a que Bilinha era viúva, entre outras coisa, diz que tem outras traumas de Bilinha que ela não quer sequer lembrá-los e Benvida fica perplexa. Alípio pede que Benvinda o ajude a fazer o casamento de Bilinha e Florencanti. Essa aceita desde que Alípio garanta que não está mentindo.

Alípio, antes de partir para capital avisa a Asclepíades que na volta pedirá a mão de Florzinha. Florzinha volta para Ipuçaba e percebe que ainda continua sendo espionada pela população, ela era agora a noiva do promotor, que ninguém sabia se ele iria mesmo pedí-la em casamento, era esperar pra ver. Florzinha tem uma conversa séria com a mãe, depois que essa lhe conta da carta que Galdino recebera quando chegou a Ipuçaba. D. Maroca escrevia dizendo que Cazuza queria ir embora para a Amazônia, trabalhar nos seringais, pois se sentia frustrado e só. Galdino ratificou a sua vontade de ter casado seu filho com florzinha, mas o desejo fútil de Asclepíades strapalhou tudo. Não deixaria seu filho morrer nas Amazônias. D. Claudina apoia Florzinha em qualquer decisão que ela tomar, mesmo que seja contrária a do pai, mais florzinha não deseja contrariá-lo, apesar de dizer que não se importa csao Alípio não retornasse da capital, entraria para o Colégio e seria freira, sua mãe se opõe a essa idéia veementemente.

Galdino volta para casar Luizinha e Matias e também porque conseguira esposa para Cazuza, um alívio para Florzinha, que se sentia culpada pelo sofrimento do primo. D. Joaninha, a mãe de Matias vai fazer visita a Florzinha, mas a visita, na verdade, era para lembrar ao Asclepíades de que o capitão aceitou que Matias casasse com Luizinha. Agora o “troca-tintas” desprezado por Asclepíades se casaria com uma moça e família bastarda.

Bilinha pede que Florêncio consiga a transferência dela para Fortaleza e de lá ela partiria para Recife onde se encontraria com ele. Assim foi feito, Florencanti consegue a transferência da professora e vai antes dela para recife, onde ficará esperando-a. Alípio viaja para Fortaleza, mas antes toca as mãos de Florzinha e essa sente-se desejada por ele, apesar de sentir vergonha no momento, gosta da sensação e sente-se amada por ele.

Numa nite em que mulheres se reuniam na calçada de D. Claudina para conversar, uma delas diz uma frase que faz Florzinha despertar: a professora está de viagem. Florzinha associou, pela primeira vez, as duas viagens e a idéias de eles poderem ter fugido para se encontrar por lá mexeu muito com ela... ela ficou confusa e receosa. Florzinha continuava a esperar, porque continuava a viver.

Os dias passam se arrastando e Florzinha vai percebendo que realmente fora enganada, bem como muitos dos que a cercavam, talvez a frustração maior de ter perdido a vida graças à vontade do pai. Poderia ter encontrado o amor de sua vida, mas não. Aquele que olhara nos seus olhos dizendo que voltaria fugiu e eles dois, o noivo e a amante fugiram, como aves de arribação, tinham-se ido em busca de clima mais ameno ... e ela ficara ali, no fundo daquele triste lar povoado dos espectros dos seus sonhos, para ser um dia conduzida, mutilada d’alma, inútil para a vida, à cela fria de um claustro (mostrando um provável final como freira, mau grado da mãe, e de muita gente, inclusive de Asclepíades Oreste de Aconcágua Pinto) como uma inválida do amor...

É importante perceber que o final do livro fica em aberto. O autor não esclarece o destino de Alípio e Bilinha, se eles ficaram juntos ou não.
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